Humanizar o vestibular não é fazer com que o aluno estude menos e sim, com que empregue honestamente o seu tempo, preparando-se bem para as elevadas exigências futuras: raciocínio lógico, boa escrita, boa oralidade, cultura, cidadania, valores, respeito ao meio ambiente, aptidão às tecnologias, etc.
Todos queremos um aluno mais reflexivo, e o ingresso no ensino superior deve ser por meio de provas que exijam raciocínio lógico, produção de textos e questões que contemplem o conteúdo, mas também, compreensão de texto, as aplicações práticas, a contextualização e a interdisciplinaridade.
O Inep – órgão do MEC encarregado de implantar o novo Enem – tem expertise para esse imenso desafio. No entanto, ainda há outros pontos indefinidos:
1) Quando o novo Enem for implantado à plena carga, serão 5 milhões de redações a serem corrigidas. Julgo ser impossível concentrar esse trabalho em Brasília. E se os núcleos de correção forem distribuídos em diversos pontos do Brasil, como manter um critério uniforme de correção?
2) As provas serão aplicadas nos dias 3 e 4 de outubro. Quando conheceremos o programa?
3) O MEC promete a divulgação dos resultados no dia 4 de dezembro (para as 200 questões) e o resultado final em 8 de janeiro, incluindo a redação. É tempo excessivo, tendo em vista a tecnologia das leitoras óticas. Esse calendário traz imensas dificuldades para se implantar uma segunda fase.
4) Se houver quebra de sigilo em Macapá, o vestibular do Brasil inteiro seria anulado?
5) Para o ano de 2009, as datas de 3 e 4 de outubro são precoces, uma vez que os alunos do 3º ano recém-iniciaram o 4º bimestre. Ademais, sendo 3 de outubro um sábado, como ficam os adventistas?
6) A tão apregoada mobilidade pode apresentar problemas, uma vez que muitos dos aprovados não poderão migrar para outras cidades para estudar, por falta de recursos.
7) Somos um país com grandes disparidades regionais. O reitor da Universidade Federal do Vale do Rio São Francisco receia que, principalmente em cursos mais concorridos, como Medicina, alunos de regiões mais ricas, por terem melhor nota, ocupem as vagas em detrimento dos estudantes do semiárido e, após formados, voltem à terra natal.
8) Definido o regramento para o novo Enem, sugere-se o debate para implantar um Enem seriado, com conteúdo programático e provas para cada série do ensino médio. As três notas seriam consideradas para o ingresso na universidade.
9) O MEC promete inscrição gratuita para o novo Enem. Atualmente, as universidades atendem os carentes. Essa verba não seria mais bem empregada em nossa combalida educação básica?
10) Num prazo de 15 dias, pela internet, e após 8 de janeiro, o aluno poderá fazer cinco inscrições de cursos diferentes na mesma universidade ou em até cinco universidades diferentes. Nesse período, cada candidato fará dezenas ou centenas de acessos na busca da melhor opção. Como serão os últimos minutos do prazo derradeiro?
Enumeramos essas dúvidas com um único objetivo: cinco milhões de candidatos anseiam por uma normatização clara e urgente quanto aos vestibulares deste ano. Eles necessitam da motivação de que o conteúdo que está sendo estudado constará no programa. Eles empunham a chama esplendorosa da esperança num futuro promissor, mas também carregam o fardo da incerteza e da insegurança. Assim, vamos compartilhar as palavras de Manuel Bandeira, recorrentes nos vestibulares: “Ah, como dói viver quando falta esperança.”
Jacir J. Venturi é vice-presidente do Sinepe/PR, diretor de escola e foi professor da UFPR, da PUCPR, de cursos pré-vestibulares e de escolas públicas e privadas.